Pequena consciência

primeiro era tanto

de se dizer que possa

um animal inconseqüente

transcender a norma

de parecer-se singular

como eventual resposta

primeiro era tanto

de se dizer monera

vínculo de tudo

que a vida era

sobra de outro tanto

indizível primavera

primeiro era tanto

de se dizer latência

do fluídico fato

da consciência

embora ainda indisposto

às razões da desavença

primeiro era tanto

de se dizer inteira

mesmo denominador

de frações urgentes

que menos lhe queriam

como só número

de qualidades tão presentes

primeiro era tanto

de parodiar-se outra

como substância imanente

e de feição avara

que teima em ser de um

mesmo quando vária

primeiro era tanto

de se dizer de tudo

que nada fosse verbo

quando não fosse o mundo

subtraído das entranhas

dos planos e dos tudos

primeiro era tanto

de se dizer adaga

alçada à palma da mão

com a mesma lavra

com que a boca diz um beijo

sem dizer qualquer palavra

primeira era tanto

de não se parecer verbo

que funcionasse como química

de tudo que é eterno

e que apenas se joga no mundo

com a suposta imanência do ego

primeiro era tanto

de não conter variedade

mas que permanecesse inconsútil

nessa singularidade

que trava os desvãos do homem

num vão que nem lhe cabe

e dito assim presente

nas quadras de tal matéria

fez-se o homem subjacente

a tudo que não lhe dera

o feitio mais urgente

da mais ingente primavera

era-lhe o siso mais assente

a um equilíbrio inverso

que quanto menos lhe sabia

mais fluía seu interno

nas coisas que não vivia

e que na vida eram verbo

era-lhe o amor mais ausente

tanto mais se considere

que o sentimento é uma ponte

de prumo urgente e adrede

que se joga sobre o rio

de tudo que se percebe

e que não se tem a custo

de químicas mais trabalhadas

que devam ser construídas

num singular em que não caiba

a multiplicidade urgente

de todas as nossas almas

amor que não seja tanto

que destempere a medida

de confluir nossos risos

no sentido da vida

que se abre em todo peito

em cada veia, em muitas vias

mas que seja controlado

na medida do infinito

que cabe quase sem jeito

nas bordas do nosso umbigo

e que teimamos em mantê-lo

do tamanho apenas dos sentidos

primeiro seja o homem

de tudo e tanto assemelhado

a tudo que não seja único

mas que também não seja vário

por pertencer a uma noção

que se mantém incendiária

de que o homem é bandeira

de tremulação planetária

que sabe a revolução

no seu íntimo mais preciso

como os cheiros de sua infância

que lhe sobram nos sorrisos

e tanto assim finalmente

se diga o homem construído

com a mesma urdidura

com que vigem os edifícios

nos andaimes todos da gente

na precisão dos ofícios

que antes de se dizer ave

de indizível equilíbrio

seja um bólide que inverta

os rumos de seus sentidos