do poeta

o poeta

nunca é tanto

quando não seja em versos

de outros tantos

que não se têm unos

pelo espanto

de não se verem vários

e perdulários de seus cantos

todos os poemas

são um

indizíveis a pouco curso

e que se têm fracionados

na aparência do muito

que se espalham em verbos

vaidosos vocábulos

que aparentam uma vazão

em que não cabem

pois antes são usina

de todo engenho humano

que constroem na individualidade

palavras de pretensos planos

e nem por isso

deixam de ser do poeta

e registrados aos solavancos

que a emoção adredemente

joga no peito dos humanos

todos os poemas

são um

e apenas apontam

nas algibeiras dos poetas

uma nesga do que contam

todos os poemas

são o trânsito

de estradas que não palmilham

os pés de uns tantos

que transeuntes da vida

apenas se contentam

em escrever os seus versos

nas dobras da paciência

em tê-los guardados

no baú coletivo

em que homens esquecem

a razão de seus sentidos.

todo poeta é igual

nada lhe sobra da alma

em versos que possa armar

que consiga trazer no dorso

qualquer vestígio singular

porque plural

não se conjuga aos borbotões

como um verbo intransitivo

que contivesse ilusões

de acabar-se em si

e continuar-se em milhões.

todo poema

é uma rinha

de verbos tantos da gente

brigando pela vida

e nem parece mansidão

embora tão pacato

o poema nem é solução

do que vai na alma.

todo poeta

é impatriota

nenhum verbo é pátria

que lhe comporte

porque de ser avulso

parecido a um só

esconda o quanto de muitos

convive nestes nós

descamba pela vida

como um marinheiro à deriva

que perdeu a esperança de um sol

que lhe demita do mar e da lida

todo poeta

é guerrilheiro

que pretende emboscadas

pelo mundo inteiro

não o mundo limitado

dos tempos e dos espaços

mas um tempo de nem onde

e um campo de nem quando

que nem sempre há de

todo poeta é, enfim,

otimista e megalômano

pensa sempre que a palavra

é capaz de tanto.