O tempo

Hoje eu pensei em ti o dia todo, cansado de esperar, sentei-me a beira da mesa e tomei aquele amargo café, que bem conheces. Não posso mais, pelo menos não sem uma outra dose de conhaque, esperar que você venha me buscar. Olhei pro cinzeiro cheio, percebendo o quanto não havia dormido, nem hoje, nem nos dias que ficaram pra trás.

Com a barba por fazer, e os cabelos ralos, anunciando a idade que me atingia à essa altura da vida, não permitindo mais minhas noites em claro, sem no outro dia ser atormentado por uma terrível dor nas costas. Acendi um cigarro, e ascendi minha alma.

Coloquei-me em frente à maquina de escrever, e bati letras em vão, apenas para escutar o maravilhoso barulho das teclas, tendo a falsa ilusão de que naquele papel, por ato do inconsciente, algo belo seria criado. Fiquei nesse transe por alguns minutos, até que o barulho do carro da máquina bateu forte, anunciando o derradeiro fim de minhas ilusões. No papel apenas letras desorganizadas, como folhas em pleno vento outonal.

Um espírito risonho inundou minha alma, e como num surto, a gargalhada, como represa devassada, invadiu o apartamento escuro, fedendo a cigarro e à comida podre. Acordando os fantasmas e ratos que rondavam por ali. Abri a porta do quarto e vi... você não havia ido, eu o fiz ficar pela força de meu pranto falso, fingido e fugaz.

Não sei ao certo, se o café, o conhaque, o cigarro, ou eu. Mas não te reconheço mais aqui... perto de mim.