Lembro…(não) sei

Lembro-me o que ainda faço no trilho

das malhas e conheço nas pedras as letras do meu rio

Não é só o que me lembro.

Lembro-me das pessoas que falam junto à minha pele

no velório dos dias que passam e depois muitas_ já não as lembro

lembro a cor d’ água como a do vinho

mas não me lembro se alguma vez agarrei uma cor.

Lembro-me que o cérebro não é um ninho ao sol

é o chapéu que protege a minha geração

e não sei para que serve o cabelo

palhas que nascem, crescem e voam livres de ideias.

Mas sei que devo comer a polpa e não os buracos do queijo

e, quando quero encontrar o sabor do beijo regurgito-o do coração.

sei porque morre o milho no pão

e quase me esquece os olhos da espiga

mas não esqueço os da minha mãe.

Também sei que me lembro de tudo o que aprendi

e até o de hoje acresce em mim

mas não me lembro se de noite vivi

e nem sempre acordo o que de noite não vi.

Não sei quanta lã de ovelhas precisa

O calor do sol

nem sei quantas pedras precisa o meu rio

só sei que das malhas apanho as letras do meu trilho.

Ana Mª Costa

Ana Maria Costa
Enviado por Ana Maria Costa em 30/06/2006
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