Quando

Quando o tempo ao fim alcançar

E o momento enfim chegar

Quando a hora já for finda

E o instante der partida

Não espere o passo

No compaço alheio

Não aguarde com alarde

O desfecho derradeiro

Quando o espaço se tornar finito

E o infinito for desenho de menino

Quando o comprimento não for suficiente

E a largura for de rio nascente

Não se estreite para passar

Na passagem permitida

Não se encolha para caber

Num catinho de guarida

Quando o som parar de tocar

E o silencio chegar de mansinho

Quando a voz sumir no ar

E não se ouvir nem mais um suspiro

Não cale a alma

Pela ordem de senhores

Não quiete o canto

Pela crítica de doutores

Quando a imagem ferir aos olhos

E a visão for deturpada

Quando as cores perderem a razão

E os traços não formarem mais nada

Não rasgue a foto

Que saiu fora de foco

Não feche os olhos para a vida

Num sono de despedida.