Do outro lado do morro

Estou descendo o outro lado do morro

já ando cansado de tudo

sem vigor nenhum

como a pena descascada do pássaro que passou

Andei, sonhei e cai de pedra

não consigo levantar

vou rolando em pernas trêmulas

devagar, mas vou arastando.

Virando o corpo vou descendo o morro

já não sonho tanto quanto antes

vou lamber as feridas

deixar o corpo indo - como faz a chuva quando cai

Não vou me debater

tentei e levei

chagas e mais chagas definitivamente me cansaram

vou somente observar, pois ando enxergando mal

Vejo agora o mundo e as coisas do jeito que são

duras e secas

severas e árduas

os sonhos são para os que podem

Teimoso e chato

decidi não mudar o imutável

pois somente sou

um ser humano que desce o outro lado do morro

Sem história

seguirei só, descendo no escuro de sempre

pouco me resta do resto que sobrou de mim

e ficarei assim... descendo, pois subir não dá mais.