Temporais de Janeiro

Há dias em que preciso dizer não ao cansaço

Em que preciso correr do desconforto

Dias em que preciso receber um abraço

Mesmo que seja da memória de um morto...

Há dias em que tudo parece fechado, sem saída

E ainda assim eu sorrio, olho as nuvens e o mar

E continuo caminhando, no calor da avenida

Mesmo quando a chuva ameaça despencar

Há dias em que a minha rotina se inunda, alaga

E meus sonhos flutuam, sacos na enxurrada

E mesmo assim minha alma ainda se indaga

Se quando o sol voltar, ainda estará ali a estrada...

Nos dias em que o suor escorre e tudo é calor

Sufocado, e limitado por razões a escolher

Invento poesias pra amenizar minha dor

E por bem ele aceita, pra parar de doer

Nesses dias em que tudo que conta são mágoas

E tragédias, fracassos e pontes partidas

Eu ignoro os destroços, e mergulho nas águas

E resgato algumas esperanças perdidas

E sigo assim, defesa civil de meu próprio eu

A salvar alegrias ilhadas, e sorrisos perdidos

Ou algum sentimento que alguém esqueceu

Na seção de triagem dos meus donativos

E quando o período das chuvas se for

Os moradores voltando para as suas casas,

Procurando cada qual consertar seu amor

E deixando seus sonhos secarem as asas.