Ode cardíaca
I
nenhuma agulha
nem eletrodo tal
navegará meu coração
em todo seu vau
porque de sê-lo assim
às vezes e tanto magro
ainda me baste a compleição
de tê-lo sempre aos saltos
porque em sendo bólide
de alada contextura
possa dispo-lo à vida
e à sofreguidão das ruas
nenhum doutor
de tê-lo assim em mãos
compreenderá suas esquinas
com qualquer exatidão
porque em sendo bomba
nem se lhe aquilate o conteúdo
porquanto explodi-lo baste
na compreensão do que me pude
e, ao invés, não seja
de explosão tamanha
como para guardá-lo intacto
nalgum desvão da esperança
porque de tê-lo ao peito
ajuize-se bandeira
de afagar adredemente
a extrema noite brasileira.
II
nenhuma agulha
compreenderá minha mitral
pois, válvula, não se diz de tanto
como se fora descaminho tal
em vão eletrônica
não lhe cabe a compostura
de esquadrinhar vãos alheios
de complexa urdidura
antes lhe sinta o caminho
de parecer-se andadura
de tudo que em meu peito afoga
a estranha vazão da aventura.