Lucidez demorada

Era mais forte quando sem querer parava para pensar

Como habitualmente era necessário estar

Para que não fosse engolida de vez por alguém

Alguma espécie de Deus oculto nas palavras

Que subentendiam que a vingança para ela seria demorada

Por isso volta e meia esquecia-se de esquecer

Mergulhava fundo em devaneios de loucura

Que verdadeiramente eram de pouca lucidez

De quem já não tem mais forças para bradar

A própria loucura de estar vivo

Eram espaços inócuos de lembranças

Velhos resquícios de algo tão normal

Que se parecia cada vez mais não pertencer

Para além das profundezas do mar

Era tonta coitada, tonta de amor

As flores que agora sobreviviam no jardim

Dessa existência tão pouca, tão barata

Eram apenas os restos da luz que o sol deixou

Para que às vezes acordasse de algum sonho

De estar em uma realidade mais utópica que a sua

Pois que vinguem-se para sempre

Derramem toda lama nessa glória desvanecida

Pois a vingança é leve e doce como um espinho

E quer perfurar devagar a pele morta

Só pelo gozo de estar possuindo

Lady Sophia
Enviado por Lady Sophia em 10/08/2006
Reeditado em 13/09/2006
Código do texto: T213480