O PASTOR IMPROVÄVEL

Eu sou um pastor bucólico

Que anda sob o manto do escuro

Atrás das ovelhas improváveis

Meus rebanhos se perderam

Dentro do labirinto do meu ser e nunca mais os acharei

Minhas ovelhas pastam no chão dos meus sonhos

Por isso não podem ser encontradas

Cada sonho, novas ovelhas que chegam aos pastos da alma

A alma é um campo difuso

Meus pensamentos são nuvens num céu implacável

Elas andam de lá para cá, ora negras e febris, ora claras e risonhas Vez são escuras de chuvas

Às vezes somem ...e tome raios e....tome tempestades!

O sol do meu céu era o amor que eu já nem sei por onde anda

Tenho delírios frequentes e estes andam de mãos dadas com os fantasmas que morreram dentro de mim mas que continuam existindo na minha angústia.

Pensar é uma tentativa de expulsá-los, mas pensar é também estar algemado aos medos. Os medos nos acorrentam aonde o amor não nos vê.

Há, entretanto, uma janela nos meus porões por onde o vento passa indicando que existe um caminho.

Por essa janela vez por outra, entra a esperança de um novo amor. (Como é infinita a esperança dos homens!!)

Às vezes me pego sentado olhando pra dentro de mim e penso que a natureza é bucólica como eu, mas sem uma alma, para se angustiar.

Eu seria um rio manso se não tivesse as correntezas dos desejos. Os desejos transportam as culpas. Eu já amei, já menti, já chorei, sofismei, aumentei, diminui, lutei, perdi, ganhei, tudo contabilizado pela consciência, no fim, fiquei devendo algo. Sempre seremos devedores de alguma coisa nesta vida.

Sempre um pecado a confessar, sempre um segredo que não queremos revelado, sempre uma mentira a ser descoberta, sempre um sentimento a encobrir, sempre uma paixão impossível, sempre um desejo insatisfeito, sempre uma contrariedade, sempre um sofrimento batendo a nossa porta.

Alguém me disse que em algum lugar a felicidade brota contente, onde todos os desejos andam despidos do pecado e do medo.

Os meus pecados andam por aí, quase nus, a desafiar impunemente a sombra que os esconde. A sombra é a mentira que me apazigua e me faz acreditar que sou perfeito, porque me oculta de mim mesmo.

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Minha alma, alerto, é seca e transparente, como as árvores velhas que não mais abrigam os pássaros, mas que nunca deixam de ansiar pela primavera.

Minha alma pode ser comparada a um poeta embriagado que vaga pela noite, recitando poesias para um amor que ele pensa existir.

A poesia nada explica, nem consola, apenas tenta colocar-nos de volta dentro da gente com todos os nossos cachorros vadios. Ela é tão inútil como a sombra que nos acompanha do início até o fim.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 20/03/2010
Reeditado em 02/04/2014
Código do texto: T2148713
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