Ode do futuro e convicção perene
haverá manhãs
que serão tão claras
que nem será preciso sentir
o que se tem na alma
e haverá
madrugadas avulsas
que anunciarão o dia
como desculpa
e haverá noites
que de tão macias
flutuarão sem jeito
pelos dias
e haverá tardes
tão urgentes
que nos pegará com a aurora
ainda nos dentes
e haverá espaços
e contingências
prestante o riso do povo
à incontinência
e haverá um tempo
de uma laica textura
enrolada nas tranças de gente
pelas ruas
e haverá um muro
transponível
e murmúrios dilatados
e um discurso rascunhado
em cada passo
haverá montanhas razoáveis
e uma leve ilusão
de que nunca é tarde
e haverá futuros desenhados
nas paredes de cada muro
e a simples constatação
desses abusos
e haverá crianças
e cebolas
tecidas nas tardes
das paciências nervosas
e haverá lentidão
em quem se gosta
e uma urgência incauta
e sem lógica
e haverá rebeliões
em cada aorta
tecido o sangue num grito
de revolta
e haverá sangue
em cada juízo
vivida a terra da face
em cada riso
e haverá egos
aos borbotões
renhidas as circunstâncias
dos senões
e haverá tudo
que não só seja
uns palmos de infinito
pela natureza.