Cena familiar antiga

Em cima da cadeira um violão

Um desses antigos, guardado com todo o cuidado

O menino em olhos inquietos o observa

Aparentemente, essa criança faz uma leitura

Do livro de capa grossa que tem nas mãos

Seu mundo, todavia, é numa canção

Os pensamentos dão conta dela

E mexe os pezinhos discretamente

Por baixo da toalha branca da mesinha de leitura

O pai está numa cadeira preguiçosa lendo o jornal

Vez por outra vira a cabeça em atenção ao menino

Não lhe recrimina pelo comportamento

Para dar alegria ao filho deixa-o flutuar em sonhos

O que faria um pintor numa cena familiar

De inúmeros tons nos pensamentos de um menino?

Mas o pai ergue a vista; há ainda a esposa e as meninas

A sala ficaria abandonada sem os risos no sofá

Com delicadeza e cuidado a mulher

Passa a linha de um lado a outro do tecido

Como se estivesse bordando um ponto de amor

Entre as conversas, cada uma das pequenas tece seu destino

Num ornamento do ambiente onde aparecem castelos

Um padre, os vestidos brancos, as flores de laranjeira

Tudo remete a pessoais reais, num plano amarelado

O piso tem essa cor, com um tapete mais vivo

Tão simples são os brinquedos esquecidos neste

Um parece ser um carrinho de madeira em tinta gasta verde

Deve ter viajado por calçadas e terras batidas no quintal

Eu poderia até me fixar nos rostos das crianças

Para descobrir se querem brincar

Todavia não entendo dos papéis

De uma sociedade do final do século XIX

Então só posso admirar esta tela a óleo.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 18/04/2010
Reeditado em 18/04/2010
Código do texto: T2205219
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