Era uma vez um saco

Sou saco perdido

no meio da estrada.

não sei se vazio

se cheio do nada.

Sou cabra

sou cobra

sou coroa de rei.

sou fada madrasta

nas teias da lei.

Sou puro

sou virgem

sou casto no lar,

sou bruto

sou bronco,

sou monstro

no mar.

Sou pagem,

sou prenda,

sou tenda

contigo.

Sou farsa

sou frágil,

sou falso

comigo.

Sou saco perdido

no meio da estrada,

não sei se vazio

se cheio do nada.

Sou belo,

sou crente,

sou ponte

do rio.

Sou luz e

sou fonte,

no meio do frio.

Sou filme,

sou vento,

se tento

lutar.

Sou palco,

sou cena

sou pena

a voar.

Sou cana

batida

pelo vento

de lado,

que goza

na vida

bocado

a bocado.

Sou saco perdido

no meio da estrada,

não sei se vazio

se cheio do nada.

Sou naco

de broa

na boca

do mundo,

palhaço,

cantor.

pastor,

vagabundo.

Sou prenda

embrulhada

em papel

de jornal.

Sou coisa,

sou loiça

sou simples

mortal.

Sou saco perdido

no meio da estrada,

não sei se vazio

se cheio do nada.

Mas parto

contente

de tudo

o que sou.

Não sei

se sou gente,

não sei

se sou crente,

não sei

donde venho

nem para

onde vou.

Mas sei

o que sou.

Um pouco

de ti.

um pouco

de mim.

um pouco

do outro

que por mim

passou.

Manuel Paulo
Enviado por Manuel Paulo em 23/08/2006
Código do texto: T223625