Pombo Correio

Põe de lado

o bocado que resta

da tua tristeza.

Dá um murro na mesa.

Espreita a janela

e vê como é bela

a lua nascer.

Liberta o teu pombo coreio.

Deixa que leve

o saco cheio

da tua mágoa,

do teu paleio,

do teu receio

de ser como és.

Troca o que diz toda a gente

p´lo que em ti é diferente.

Abraça o que ama,

acolhe o que chama,

anima quem clama

um mundo melhor

Deixa a paixão apanhar-te.

Constrói um sonho por dia.

Coloca de parte

quem queira tirar-te

a tua alegria.

Faz do viver uma arte,

da festa folia,

do carinho estandarte,

do só companhia.

No dia seguinte

serás o pedinte

mais rico e ditoso

do teu quarteirão.

Dirão que és tonto.

Dirão que és conto

de outra novela.

Ficção, fantasia,

capricho, utopia,

cavalo selvagem

sem rédea nem sela.

Que o sonho sem trela

É sonho que acaba

Como apaga uma vela.

Mas deixa falar.

Como queres ser lembrado?

Como alguém cumpridor

que sempre disse “amen” ao seu senhor

Ou como alguém sonhador

que deixou um projecto profundo

que mudou o Mundo?

Manuel Paulo
Enviado por Manuel Paulo em 24/08/2006
Código do texto: T224541