Flexão de alcova

O que são as noites frias

Se não alcovitados sonhos desaquecidos

Esquecidos por uma lei que a mim mesmo

não me fiz promulgar?

Ateu da saudade não creio em adeus

Vou até logo sem retornar ao que é sempre

Sinto ter, como o ar nos pulmões,

O amor que é tua festa,

A preencher de luz meus salões

O mundo rodopia como um bêbado alegre

Enquanto dou um giro pela meia cidade

Nas sombras das dúvidas, o que me assombra

é a falta de silêncio nos rádios desligados,

nas conversas avessas, no ludibrio desgastado,

nos fantasmas pintados, no barulho dos bancos desocupados,

no fundo de um grito comum perdido,

no labirinto da mesma saudade

Antes do sono, penso ser vivo

No despertar mais perto estou da morte

De meu espaço sou autor

Nos meus passos sou ator

Canto o quanto tenho pra cantar

A quem posso dizer o que digo sem temer?

Somos rodas dentadas velocidades desiguais

Busca inútil sopro dos ais

Sento-me a beira de meus pensamentos

Balanço meus pés indiferente ao perigo

Tenho-me comigo

Sou uma idéia de mim mesmo

Como um sonho onde me sonhei acordado

leandro Soriano
Enviado por leandro Soriano em 24/08/2006
Reeditado em 05/09/2006
Código do texto: T224559