Pedra sobre Pedra
Construi um castelo.
Pedra sobre Pedra.
Sozinho,
com pá e picareta
cavei as valas
para as fundações.
Levantei as paredes
Pedra sobre Pedra.
Numerei cada uma
para não me perder.
Tentei encaixa-las,
sem cimento
tal como os antigos.
À chuva e ao relento,
atingi as ameias.
Coloquei um par delas.
Deixei entre cada uma
intervalos regulares.
E pelos espaços
fui lançando
flechas,
piropos,
mantimentos,
petardos e
sentimentos.
Por cada intervalo
que surgia,
escolhia
a peça a lançar.
A última fresta,
pegada à primeira,
(más contas que fiz)
ficou mais estreita.
Por ela
nem um dedo cabia.
Esgotei
as munições que levara.
Deitei-me, cansado,
encostado ao portão principal.
E dormi.
Passada
não sei quanta noite
não sei quanto dia
acordou-me
um raio de Sol
que entrava
pela ameia
por onde
nem um dedo cabia.