A resposta do homem

Não se iluda caro amigo de palavras entrelaçadas,

o poeta é frágil em seu desalento,

o poeta chora sua convulsão dolorida,

o poeta melindra-se aos abalos do mundo,

porque é galho de oliveira num vendaval,

porque é gelo fino sob passos de esquimós,

porque é tempo curto no relógio do sol.

Não imprimas caráter de herói ao poeta,

porque em seus sentimentos ele é solitário,

vive a melancolia de dias com risos e lágrimas,

num misto de doce e salgado que lhe dão sabor

de uma alma torturada pela incompreensão do mundo.

Não esperes feitos grandiosos do poeta sonhador,

porque ele é apenas um grão de areia no deserto,

não se pretende redentor ou construtor de realidades,

mascara-se a si mesmo para sobreviver no baile da vida,

forja sua armadura com sua pena e suas palavras melodiosas

tentando expelir de si a agonia que o consome.

O poeta com seu olhar azul vislumbra um horizonte distinto,

porque sendo homem não encontra seu lugar na terra,

esquiva-se de ideologias e verdades absolutas,

remói suas esperanças num mundo de conflitos e insegurança.

O poeta é humano, demasiadamente humano e sensível,

não se apaixona porque ele todo é paixão incerta,

é fogo que arde para iluminar o candeeiro do trajeto,

é efêmero e não matéria nesse alter-égo que o abriga.

Por isso, não se apaixone pelo poeta, mas pelo homem

esse que vive no poeta com erros e acertos desequilibrados,

esse que se esconde no reflexo de um espelho quebrado,

esse que precisa de uma mão que o acalente na tempestade,

porque esse homem é poético e não poeta.