Conjugação fatal

Conjugação fatal

Tudo se conjuga para destruir o interior,

E o que ainda lhe resta de bom e de valor:

São os vícios, antes próprios só da cidade,

Mas que são hoje aqui uma enfermidade.

É a poluição que avança a passos largos,

E traz á nossa gente dias tristes e amargos.

É o ar que cheirava ao perfume das flores,

E que agora está carregado de maus odores.

È o rio Côa que já foi dos mais famosos,

E que hoje quase sem caudal nos traz chorosos.

São as fontes onde já bebemos á vontade,

E nas quais jorra hoje, água sem qualidade.

São as fabricas que em nome do progresso,

Viraram as nossas vidas e hábitos do avesso.

É a chuva que antes vinha regularmente,

E hoje participa no descalabro porque ausente.

É o lixo um pouco disperso por todo o lugar,

E contra o qual, o homem não quer lutar.

São os incêndios que sem razão aparente,

Deflagram e tudo destroem num repente.

É a segurança a que estávamos habituados,

E que deu lugar ao medo de sermos assaltados.

É a desertificação que arrebata a juventude,

E deixa só os velhos já fracos e sem saúde.

São os governantes alheios ao nosso mal,

Para quem só existimos em época eleitoral.

Somos enfim todos nós que não reagimos,

E de boa fé tudo aceitamos e consentimos,

Quem a história virá a julgar pela apatia,

E pela inércia em que vivemos o nosso dia.

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 16/09/2006
Código do texto: T241547