Ode aos 54

aos 54

nada me convoca

a não me sentir ausente

da discórdia

fluo impunemente

pelos vincos da idade

como um barco que ousasse

todos os mares.

aos 54

permito-me a simplicidade

de militar na vida

com certa intimidade.

nada que não seja nunca

e que só seja sempre

quando tarde.

aos 54

desaviso-me das vaidades

ainda que me seja franca

a inexatidão da verdade

e que navegue pelo peito

a imensidão e a infilosofia

de todas as vontades.

aos 54

meço as minha réguas

com a tranqüilidade

de quem sabe

todos os centímetros

em que a gente cabe.

aos 54

transijo com a vida

ainda que não a compreenda

como liça

mas como um grande acordo

que a natureza fez consigo

aos 54

nunca me desdigo

a não ser que o verbo

seja pouco e incompreendido

que nem palavra lhe sobre

nos sentidos

Aurélio Aquino
Enviado por Aurélio Aquino em 11/10/2006
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