O minuto da palavra

A poesia não passa do momento,

É o minuto da palavra.

Belo, completo. Ali, agora.

Agora, já não mais existe.

A letra que não é escrita,

Jamais será dita novamente.

A memória é papel na chuva.

Já chove normalmente.

Não mais como naquele minuto.

Agora o sol brilha ordinariamente.

Nunca mais será diferente.

Outras poesias virão

E o poeta sorrirá em vão.

O instante fugir-lhe-á à mão.

O poeta é transporte da palavra.

Muitas vezes lhe falta o chão.

Noutras, estará ferido o coração.

Sempre num instante.

Naquele momento.

Já passou.