Presença de Espírito

Que é isto que pensa meu pensamento

E sente o meu sentir primeiro que o sentimento?

Quem é que me rouba a ausência

E presencia a minha solidão?

Que coisa é esta que me dá desde o limite do corpo

Até a fronteira do chão?

De tempos em tempos esta melancolia movediça

Que me enche as esponjas dos olhos da enchente do espírito!

Tenho razões de sentimentos e sonhos de realidades,

Ao passo em que não tenho nada e estou cheio de posses.

Esta proximidade longínqua entre o corpo e a alma,

Este espaço descontínuo entre os homens,

Os passos do destino que descompassam a vida,

Tudo me desorienta nesse caos orientado.

Quem dissipa esta névoa da alma e turva o homem,

Cegando-me os olhos nesta visão clarividente?

Meu coração, ampulheta da vida, carretel do tempo,

Destrava essa âncora que ancorou o mar

E dispara de novo esse tic tac do homem,

Sem parar o horizonte que volta à terra firme!

Gabriel Calixto
Enviado por Gabriel Calixto em 22/10/2006
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