Saber
Cresci
como quem sonha
o impossível
Amei
como quem teme
a solidão.
Vivi
como quem busca
o invisível.
Folguei
como quem farsa
folião.
Sofri
como quem chora
o indizível
Calei
como quem segue
a multidão.
E agora?
Que acrescenta
á tua
Sabedoria?
Essa utopia
essa procura?
Essa miséria,
essa loucura?
Quantos côvados
adicionaste
à tua estatura?
Eu a amei e busquei desde a minha juventude,
procurei tomá-la por esposa
e enamorei-me da sua formosura.
No amassar
dos assaltos
e percalços.
No afagar
desventuras
e glórias
Descobri
o que finjo
e o que sou.
E amei o que busquei.
O saber de onde venho e para onde vou.
É que ela está iniciada na ciência de Deus
e é ela quem escolhe as suas obras.
Pus de lado
o bocado que resta
da minha solidão.
Mesmo só
acompanho
a multidão.
Peregrino
do sonho
e da utopia
Amei o que busquei.
Tomar Deus por minha companhia.
E se a riqueza é um bem desejável na vida,
que há de mais rico que a sabedoria, que tudo pode?
Sou rico
do que sei
e do que sou.
Que importa
o que tenho
ou como vou.
Caminhante
de trilho
sinuoso.
Amei o que busquei.
Aquele teu beijo sensual e amoroso.
Por isso, resolvi tomá-la por companheira da minha vida,
sabendo que ela será para mim conselheira do bem
e consolação nas preocupações e nas tristezas.
Romeira
de festas
e folias.
Egéria
de abanões
e poesias.
Viajante
incauto
e inseguro.
Amei o que busquei.
Projectar o passado no futuro.
Graças a ela, alcançarei glória entre as multidões
e, embora jovem, gozarei do respeito dos anciãos.
Sem ti
sou cordel
ensarilhado.
Contigo
companheiro
respeitado.
Transeunte
prudente
e verdadeiro.
E amei o que busquei.
Palavra escrita do azul do meu tinteiro.
Se me calar, esperarão que fale;
se falar, escutar-me-ão atentamente;
se me alargar no discurso,
ficarão cheios de admiração.
Afogo a mágoa
dessa noite
impenetrável.
Conto a história
com um fim
apetecível.
Viandante
que abre
o coração.
E amei o que busquei.
Encontra-te no caminho, meu irmão.
Graças a ela, alcançarei a imortalidade
e deixarei para a posteridade uma memória eterna.
Saudade
de um passado
sem história.
Certezas
de um futuro
com memória.
Passageiro
dum comboio
itinerante.
Amei o que busquei.
Ser Sol e chuva, no vento do levante.
Ao regressar a casa, repousarei ao lado dela,
pois o seu convívio não tem nada de desagradável
nem a sua intimidade é aborrecida,
mas apenas deleite e alegria.
Viver com ela
o repouso
do guerreiro.
Partilhar nela
o amor
a tempo inteiro.
Companheiro
do deleite
e alegria.
Amei o que busquei.
Ser a força, o amor, a companhia.