As Sete Liberdades

"Crônica é tudo que o autor chama de crônica" (Fernando Sabino).

Então você escreve? Me exercito na tarefa de... Que corrente segue? Você disse “corrente”? Sim! Ah... Moça, em criança, tive um amigo. Éramos carne-e-unha. Descuidei e ele sumiu. Claro: fiquei impaciente, mas suportei até a próxima manhã, quando fui surpreendido ao vê-lo preso em uma corrente. Ele se chamava Cativo. E lá eu o via tão acorrentado que não pôde vir fazer festa dando as patas às minhas mãos. Fui aos nervos. Cativo livrou-se da corrente e nós nos mandamos às obrigações, a brincar e passear. Bem, isso aconteceu eu era criança. Sou traumatizado com correntes... passo longe delas. Quaisquer umas: as que querem nos impor, as que nós mesmos criamos para nosso próprio cativeiro (terríveis!...), as que nos roubam a capacidade de ser... Sabe como é: trauma de infância é difícil de tirar...

Mas escola segue? Sim, a da vida.

Tá!... Nem influências recebe?... De ninguém? Influências? Você pirou? Claro que sim. Todas! Todas! Do passo alheio na rua; do suor caído e tornado pão; do sonho estudantil; da ingenuidade professoral; do amor resolvido; da paixão que aniquilou; da coragem de partir; da manhã nascida; do dia inteiro feito labuta; da noite dormida e sã; do ódio a enfumaçar corações; do enlevo leve dos dançarinos; da guerra e da paz; do viver, existir e morrer... entre tantas e tantas que me encontram por aí...

Então desconhece os movimentos dos escritores... Não sei! Os escritores e escritoras que conheço andam, correm, pulam, bailam, se deitam, deixam o coração em ataques, choram, sorriem, se decepcionam, matam, mentem e morrem, voam, nadam, se escondem, se mostram, assumem, diluem-se em suas letras de alegria e glória... esses movimentos eu não ignoro!

Ia falar de sistema literário, mas pelo jeito... Ah!... a catalogação de grupos, reunindo pessoas e suas idéias? Etiquetar é rotular e rotular me parece restringir... melhor não!

Sua tendência, então, é muito peculiar? É!... É a tendência do meu tempo, da história que vivo, da existência que faço e sofro. Fora disso, amiga, o que há para escrever?

Acabará formando uma nova teoria... Não tenho a menor pretensão... mas se fala de teoria como forma de ver, eu digo que sim, que escrevo com meus próprios olhos, claro!, formados por inúmeros olhares. Fora de mim e dos que estão em mim; fora de tudo o que me faz e me desafia, eu não encontrarei o meu caminho, minha saída, minha via...