Eu conto meu conto

Sento-me diversas vezes diante de mim,

sou um livro sedento por olhos,

e lanço-me por entre as páginas,

à procura de outras digitais.

Tenho apenas as palavras e um

desejo voraz de significações alheias.

Sou um livro! É certo que livros não o são somente,

mas abandonados na estante o que hão de mais ser na mente?

Qual indiferença ao seu autor e obra.

Ó Deus, fora infeliz em abrir-me as páginas da história?

Não há quem leia, não há quem conte,

não há quem note,

que este livro de letras miúdas,

capa dura e rusticidade,

embala a alma de uma criança,

e canta soneto de vivacidade.

É um velho livro, sem privacidade!

História de quinhentas Marias.

Mas qual livro em sua agonia,

não torna a Maria, armaria, arsenal de alteridade?

Então eu, autora-texto desta obra que não

sei se por ventura minha,

sou também leitora, que realinha

e resignifica um conto de liberdade!

Indy Lispector
Enviado por Indy Lispector em 16/03/2011
Código do texto: T2851961