PROPÓSITO
Já foi dia do leão
Outro será da gazela
Já foi o rugido da bomba
Hoje nasce o mais puro botão
O dia do sagrado punhal
Lancetando a dor de Maria
Ressuscitou nos impondo o abandono
A hora do abraço que acerca
A cerca que pune o vizinho
A dor acre da clausura papal
E em troca a delícia da luz libertária
Para cada coisa um propósito
O despropósito de tudo e cada um
O escárnio e o preconceito ignoram
Matam menino por beijar seu amigo
A devastação sem sentido campeia
E o sentido constrói outro muro
Desamor nos impõe sempre dois lados
Escuridão que persiste na burca
A beleza da nudez sem pudor
Escancara as entranhas da lei
Um discurso em cada púlpito escarrado
Palavras voam sem peso no ar
Meio-dia é quase meia-noite
Meio-podre é quase comestível
Meio-rico é meio-desonesto
Pois riqueza nunca foi cor-de-rosa
Meio-burro é quase tenente
Burro inteiro pode ser presidente