Repente Sudestino

o que meu cérebro guarda

no seu obscuro mar

nem tudo me agrada

mas tudo vem me abraçar

o meu ímpeto como farda

me obriga a usar

a dor em cada

momento de amar

falo com a espada

entre meus dentes mordazes

não acredito em fadas

pastores ou padres

sou tudo que enfarta

pois guardo como ases

este mal que como facadas

no jogo são eficazes

sinto o mundo como nada

passar pelos meus olhos

nada neles ficam, nada

nada como espólio

II

meus versos são usuários

são flores num campanário

são amor de solitário

são do tempo um escapulário

tanta gente nesse mundão

cada um como ermitão

aprendendo solidão

no convívio da multidão

se nasce pra morrer

se vive pra nascer

nada tão puro pode acontecer

não há verdades para conhecer

tantos procuram amor e paixão

se queimam com poder do vulcão

que as larvas consomem ilusão

como a terra engole seu caixão

alguns vivem para o riso

se dizem libertos de compromissos

na realidade são apenas submissos

ao pecado da omissão.

Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas