Esse tal agora

Sinto falta de um certo instinto

Que guia animais primitivos

Se disser que o tenho, minto

Mas não faltam-me motivos

Às vezes fico assim entristecido

Tomado por uma imobilidade

O coração pesado, ombro caído

Uma tristeza com brevidade

Que logo parte, se vai

Mas que está sempre perto

Meu pensar às vezes atrai

Mesmo quando estou certo

Sinto falta de errar demais

De navegar sem mapa e destino

E sem saber como voltar atrás

Com o abandono de um menino

E a firmeza de uma tenaz

Render tributo ao desatino

Ao mesmo tempo, rio do erro

Rio do engano, do desacerto

Da falta de plano, esse desterro

Da não-partitura desse concerto

Gosto de ver os passos pequenos

Gotículas de progresso, estrelas

Possibilidades, as que vemos

E as chances, de percebê-las

Olho o futuro, e evito o medo

E do passado, a melancolia vilã

Pois cá no meu hoje vive o segredo

De não sofrer nem por ontem,

E nem por amanhã.