DIAS OUTONAIS

Tanto necessito de harmonia,

Que dos meus gestos faço dança,

Para que a arte torne belos

Estes dias curtos do Outono.

Limpo cada folha da palmeira

Como quem penteia os cabelos de oiro

De uma princesa donzela.

Atento, o meu olhar passeia manso

Sobre as construções passantes,

Quando em trânsito navego na cidade,

E lentos desfilam edifícios altos

Nas margens empedradas da avenida.

Prendo-me aos detalhes do mármore jovem,

Do ferro forjado da varanda antiga,

Às minúcias doces de um jardim cuidado,

À cortina em renda por trás da vidraça…

Rola-me entre os dedos a caneta prata

Sinto-a macia, em ânsias de apontar

As palavras prontas que lestas irrompem

Na tarde outonal.

Na chegada a casa, no abrir da porta,

Na entrada escura, no buscar da luz,

Imito a elegância do bailado,

Cisne encantador, fonte de candura,

Em gestos suaves que no ar desenho…

E assim se passam os dias do Outono.

Como a folha seca que ao vento se entrega

E sonhando voa, ave por segundos,

Cada vez mais alto, mais longe, mais leve,

Até que o remoinho, ao virar da esquina,

Tolha o seu caminho

Ilona Bastos
Enviado por Ilona Bastos em 24/11/2006
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