Diário de um licântropo
Não aguentava mais
O que iria fazer?
Brigar comigo mesmo?!
Não sabia dizer...
Perguntando o que acontecia
Uma voz me respondia:
Fraco, você é
Sabes o que fazer
Por que queres me esconder?
Não tente me matar
Moleque arrogante
Sabes me dominar
Mas, e aí?
Até onde irás?
Se minha força almejar
Terás de me libertar!
Eu já não podia mais
Segurar o lobo sagaz?!
Minha força esgotava
Minha vontade perecera
Meu coração doce e apaixonado
Forte me havia deixado
Mas de que serve
Amar e não ser amado?
Pensei ainda mais
Como viver em paz?
Fraco voltava
E o lobo se alimentava!
Não poderia mais contê-lo
Já não via mais sentido em não ceder
Não poderia vencer
Eu queria morrer
Então, fui ao fundo de minha mente
No cantinho das emoções
Na cela da personalidade
Pedi ajuda
Uma sugestão...
Foi então que ele falou:
Acabarei com teu sofrimento!
Liberta-me e eu como seu coração!
Pensei e pensei
Mataria meu lado sentimental
Ao menos o que gosta dela
Ah, disse, é agora!
Deixar-te-ei me devorar!
Companheiro de mente
Estou mesmo doente...
Abri então a cela
Esperando a fera devorar-me, fiquei
Mas, o lobo me lambeu, agradeceu
E então aconteceu!
Fundimo-nos!
Um ser só!
Ainda estava no comando
Mas senti meu corpo estremecer
Minha face doer, ossos em mudança...
Caninos de fera subjugando os meus
Garras vinham aos dedos
Um focinho eu tinha
Sentia-me homem também
Não entendia um vintém
Procurando respostas no espelho da alma
Agachei-me ao rio de minha personalidade
E ali estava eu!
Metade homem, metade fera
Um verdadeiro lobisomem!
Espere, pensei...
Algo está errado!
Não sou mais eu!
Sou o lobo, Não!
Nenhum, nem outro... Confusão!
Sou os dois, uma nova existência!
Sinto-me vivo!
Forte, sagaz...
Livre! Sim, livre!
Eu tenho valor
Não sinto a dor
A dor de um coração partido
Mas ainda sinto o amor
Ah! Impossível amor...
Prender-te-ei coração travesso, disse e fiz!
Prendi e lá está assim vai ficar...
E eu?! Eu estou bem, melhor do que nunca!
Das cinzas eu vim, agora que renasci
Vou ser mais feliz!
Mas a chave ainda está aqui, aqui comigo
Vou vivendo até alguma donzela reclamá-la
Pegar a chave que prende ele, o coração...
Mas, por enquanto, o mundo é meu!
Vou à caça!
Sendo estas minhas palavras...
Deixo este diário
O diário de um licantropo
Um licantropo da alma...