A noite

Não quero dizer-te

que não és bela,

recheiada de luzes e de estrelas

porque,assim,

eu estaria blefando.

És magnífica,

se a lua e as estrelas

te embelezam.

És misteriosa,

ainda que as luzes dos postes

te iluminem.

Esse teu mistério

traz esperança aos namorados,

pela convenção do amor enebriante

que a penumbra ocasiona.

Esse teu mistério,

paradoxalmente,

encanta e amedronta.

Sob ti, a violência

encontra respaldo,

mesmo que não concordes com ela.

Sob ti, os crimes

são realizados,

os banais (se é que um crime pode ser banal),

os hediondos,

quew buscam tua escuridão

ou o estágio do sono

para concluirem sua tarefa macabra.

Tu és assim,

arisca e graciosa,

às vezes triste, às vezes esplendorosa,

excêntrica,fabulosa,

irradiando alegria

que contagia.

Ó noite,

que sobre nós

medre o teu lado de amor,

porque o da dor

precisa ser minimizado,extirpado,

para que o ser

seja contemplado

pela luz, pelo calor,

pelo prazer, pelo fervor.

Não deixes

que a doença, a depressão,

o suicídio, a ilusão

pertturbem a alma humana.

Traga a alegria pela canção

de amor ou de vivacidade,

expulsa do nosso peito

a escuridão e a saudade,

sem te encherwes de vaidade

que leva à perdição,

sem trazeres a insônia

ao cidadão.

Vem, ó noite,

e ouve o meu pedido

que brota do meu peito ferido,

por ver que o amor não impera ainda

em todos os corações.

Mas sei que, um dia,

a ferida que sangra a humanidade

com tua ajuda e solidariedade

um dia estancará.

Nadir de Andrade
Enviado por Nadir de Andrade em 05/12/2006
Código do texto: T310247