Ruminações
Rumino coisas que compreender não consigo
E essas coisas levam os neurônios à exaustão
Busco resposta em algum pensamento antigo
Que me mostra estar o segredo no coração.
Mesmo assim continuo ainda um ruminante
E chego a vomitar idéias num pedaço de papel
Mas tudo me parece tão confuso e alucinante
Que chego a crer doce o amargo azedume do fel.
Louco, confuso, ao chão levo os lábios
E sorvo, engulo, o que ali ficou caído
Como se aquilo fossem as páginas dos alfarrábios
A livrar-me da ignorância de que fui acometido.
Nem isso, no entanto, tira-me esta agonia
E as idéias continuam muito desconexas
Busco em outros cantos o segredo da Sabedoria
E não vejo em mim as barreiras tão complexas.
De novo as palavras são expelidas com violência
Mas vejo no papel apenas rústicas garatujas
O desespero então se expõe em sua excelência
E ao rosto levo as minhas mãos sujas.
Prostrado diante de toda a Universalidade
Braços abertos em súplica inenarrável
A banhar a terra frias lágrimas de perplexidade
Por reconhecer-me perfeitamente descartável.
Que não se busque nestes versos a Lógica
O Ilogismo é a nossa Caixa de Pandora
A busca por perfeição é inútil e demagógica
Tê-la é utopia do ontem, do amanhã e do agora.
Após ruminar, vomitar e engolir tantas ilações
Vê-se que é impossível digerir tudo o que se nos põem à mesa
E que às vezes é preciso esperar pelas sobras das refeições
Para depois viver a escassez de alegria e a fartura de tristeza.
Cícero