Ruminações

Rumino coisas que compreender não consigo

E essas coisas levam os neurônios à exaustão

Busco resposta em algum pensamento antigo

Que me mostra estar o segredo no coração.

Mesmo assim continuo ainda um ruminante

E chego a vomitar idéias num pedaço de papel

Mas tudo me parece tão confuso e alucinante

Que chego a crer doce o amargo azedume do fel.

Louco, confuso, ao chão levo os lábios

E sorvo, engulo, o que ali ficou caído

Como se aquilo fossem as páginas dos alfarrábios

A livrar-me da ignorância de que fui acometido.

Nem isso, no entanto, tira-me esta agonia

E as idéias continuam muito desconexas

Busco em outros cantos o segredo da Sabedoria

E não vejo em mim as barreiras tão complexas.

De novo as palavras são expelidas com violência

Mas vejo no papel apenas rústicas garatujas

O desespero então se expõe em sua excelência

E ao rosto levo as minhas mãos sujas.

Prostrado diante de toda a Universalidade

Braços abertos em súplica inenarrável

A banhar a terra frias lágrimas de perplexidade

Por reconhecer-me perfeitamente descartável.

Que não se busque nestes versos a Lógica

O Ilogismo é a nossa Caixa de Pandora

A busca por perfeição é inútil e demagógica

Tê-la é utopia do ontem, do amanhã e do agora.

Após ruminar, vomitar e engolir tantas ilações

Vê-se que é impossível digerir tudo o que se nos põem à mesa

E que às vezes é preciso esperar pelas sobras das refeições

Para depois viver a escassez de alegria e a fartura de tristeza.

Cícero

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 28/10/2011
Código do texto: T3302706
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