Eus
Eu não sou eu
sou um conglomerado de eus
que lutam entre si
e o resultado sou eu.
Estes Eus que há em mim
embora lutem,
são dependentes uns dos outros
e sem eles eu não haveria.
O meu Eu-sacro
volta-me a Deus
mas revolta-se quando Ele
dificulta, por amor ou castigo, um sonho.
O meu Eu-profano
leva-me à ebriedade de prazer
mas se arrepende pelo vazio que isso causa
e torna, doente, à cama solitária e fria.
O meu Eu-filósofo
faz-me pensar o mundo
de diferentes pontos de vista
mas logo se cansa e me faz doer a cabeça.
O meu Eu-pragmático
logo desiste de fazer-me algo
pois não me afeiçôo a pragmatismos
mas sempre me dá suas lições.
O meu Eu-professor
levou-me à ideologia de ensinar as coisas
mas se cansa aos poucos da realidade
em que ensinar é sinônimo de purgatório.
O meu Eu-covarde
anda de mãos dadas com meu Eu- herói
mas os dois me fazem sofrer demais
e não preciso falar o porquê.
Dentre tantos Eus, e há vários outros,
o que mais gosto é o Eu-poeta
pois ele pode ser todos os outros
sem causar-me sofrimento algum.
Cícero