O troco
A vida é tão corrida
Que mal dá tempo geralmente
De viver a vida
Obedece-se ao relógio integralmente
Esquece-se até de uma dolorosa ferida.
É o trabalho que precisa
A todo custo ser cumprido
Sem tempo para sentir a brisa
Até o prazer é esquecido
E a recompensa ao existir apenas visa.
Sem que o dinheiro, no entanto,
Por completo o satisfaça
Pois junto com o sorriso traz o pranto
Alimenta a cobiça, traz riqueza e desgraça
Satisfaz o ego e causa desencanto.
Quando se percebe que tudo foi em vão
E o Dono do Estabelecimento traz a conta
Vem o desespero, vem a desilusão
Acha-se o preço uma verdadeira afronta
Mas o débito é pago debaixo do chão.
Aceita-se como troco a Morte
E paga-se o viver com a própria vida
Por vivê-la de forma tão corrida
E muitas vezes sem um correto Norte
Resta apenas o não restar saída.
Cícero