O homem que não ria
Era uma vez um homem de cujos lábios
Rarissimamente escapava algum riso
Tinha, silencioso e arrogante, o ar dos sábios
E deles também a estupidez do siso.
Aos que lhe cercavam, meio termo não cabia
Portanto, tinham-lhe indiferença ou admiração.
Mas por trás daquela muralha apenas se escondia
Uma enorme e insaciabilíssima solidão.
Os dias de sua vida se foram indo assim
Extremando-se entre as coisas da existência
Até que sua própria existência chegou ao fim.
Ao velarem o corpo no esquife postado
Algo incomum notaram em sua aparência:
Um largo sorriso em seus lábios estampado.
Cícero