Eterna dívida

No princípio, antes da grande explosão,

Quando só havia a ordem do caos e da escuridão

Havia também paz junto a este nada

E hoje, à força, ela precisa ser buscada.

Mas, fez-se a luz e com ela se fez a vida

E, simultaneamente, fez-se terreno a uma ferida

Milênios depois aberta por uma brecha

Que hoje, nem à força ela se fecha.

Após tudo veio o último ato da Divina Criação:

No Éden, fez-se Eva para companheira de Adão;

Porém, com eles veio o pecado original

Sendo sua desobediência o início do Juízo Final.

Não bastassem as consequências de tamanho deslize,

Outro pecado veio dos filhos para alimentar a crise.

O primeiro fratricídio da humanidade:

Caim mata Abel e cela as chances de felicidade.

Depois disso, impérios foram se criando

Enquanto profetas, em todos os cantos, iam anunciando

A vinda iminente e inevitável de um Salvador, um Messias

Para nos livrar de todas as nossas agonias.

Entretanto, após de si mesmo tomar consciência

O homem passou agir com tanta arrogância e imprudência

Que foi aos poucos se tornando indigno de ocupar

A Terra maravilhosa que Deus lhe deu para morar.

Veio o Cristo e lançou sua Palavra, sua Semente,

Conforme o anunciado por quem Lhe foi precedente

Mas a paga que recebeu por trazer-nos a luz

Foi, ingrata e cruelmente, ser pregado na cruz.

Havia, antes Dele, o mundo dividido

E cada território com seu povo já definido

E cada povo com seus costumes, crenças e religião

E cada povo querendo tomar o que não lhe estava à mão.

Sede de poder, de riqueza e prepotência criaram a Guerra

E este monstro humano jamais deixou a Terra;

Terra desde o princípio de sangue manchada

E, portanto, periodicamente, precisa ser lavada.

Depois Dele, tudo igual e tudo diferente

Pois salvação havia para quem Nele fosse crente;

Depois Dele, impérios ruíram e outros cresceram

E, em nome Dele, os homens mataram e morreram.

O livre arbítrio nos foi um presente Divino

E é por ele que traçamos o nosso destino;

Mas há quem aos outros usurpe este direito

Menosprezando a responsabilidade por cada ato feito.

Hoje se paga o preço por usá-lo arbitrariamente

E o juro é alto e cobrado de forma inclemente

Para minimizar uma impagável dívida contraída

Desde que do barro Deus ao homem deu vida.

Cícero

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 06/12/2011
Código do texto: T3374963
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