ISMÁLIA SEM TORRE
( CANTO MAIS MODERNO DE ISMÁLIA )
Quanto mais a Torre de Babel
subia, mais a Humanidade
descia
erguendo Castelos e Muros
de Domínio e Poder
a Ponto "da"palavra Primitiva
e Divina de União
se Perder, Sombras tomando
todos os desvãos do Caminho.
Agora áspero, agora exclusivista
agora guardado por Armas
/ e Possessões...
Mas a primitiva Virtude da palavra
apenas esmaecera...
Como uma semente a ser vista
/ pelo lado de dentro
ela íntegra retornaria
apenas trabalho de Poetas
/ e Poesia
por sobre o Eterno tecido
/ do Tempo...
Como um Bordado por sobre
/ o Dia de Sol...
Como uma pá...
Como uma bela pá sem Cal...
___* ___
Aquele era um Cemitério
/ Especial
que dava trabalho a toda a Co-
/ letividade...
Nele, os Mortos não queriam
pra mau alívio de todos...
( ou quase todos! __com jus-
/ tiça...) ):
quedar mortos !...
Posta na torre a Sonhar
Ismália...Enlouqueceu...
Aos Sonhos todos do Mar
À Lua toda se deu...
Enlouqueceu a Ismália
Cantando por sobre o Mar
E lúcida a lua, viva
A veio, toda, abraçar
Ismália, que era pobre
Nem pingo de Veste de Sol
Cantava a Canção Perfeita
Que nos trazia arrebol
Desdobrado...Lá no vale
O poeta tudo via...
Transcreveu-a louca Ismália
A ser Tua e ser Minha
Pensando que haveria um Dia
Em que ela seria alegria
Como começo de escada
Jarro de Imensa Dália...
Luz Perfeita Pôr-de-Sol
Mães reencontrando filhas
Netos redescobertos
a se lançarem
aos braços
___de avós!...___
___A torre insciente desfeita___:
Sonho d'Alma satisfeita!...
Foi seu jeito
___ a sombra do luar___
___ espalhando ___
___ a força da cura
do linguajar ...___
Incluída no Concreto Sonhar
banhado em ondas
e Mar!...
Investimento em Saúde
plenitude
aí a Vela encastela
___ a Alma caindo no mar
o corpo? subindo ao ceu...___
Nesse mundo renovado
__com mais sério compromisso__
Ismália sarou de vez!...
Trabalha
faz análise
três vezes por mês...
É a mais linda atendente
numa loja cheia de fregueses
O castelo da Humanidade
espera ainda outros sois
... A lua? , banhada de Mar...
Sabe que Castelo é frio...
e mais frio__ ainda!__ sem Sol!...
___nosso Solar!
Há cura no sal das ondas
... do mar
Haverá primavera
fora de Castelos
pra Ismálias e Ofélias
___não só pra elas !...___
pra todas as Ismálias
cura pela FALA
"feias" ou belas
com vestidos___, agora sim
não é o fim
num mundo sincero,
mas que por si vela,e se Revela
num esforço de se superar
como ondas forçando o Mar
Força da Busca Mais Bela
aqui, macia, singela
pra uma Vida Toda e Mais Bela
coloco uma... anti-
pedra...
___de Primavera !...
NOTA:
O presente Canto foi inspirado
no Poema "Ismália (na Torre)" do
Poeta Alphonsus de Guimaraens.
Eis o Poema na íntegra e, logo a-
baixo algumas informações bio -
gráficas desse poeta essencial à
nossa universal brasilidade.
ISMÁLIA
Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no ceu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao ceu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do ceu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do ceu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao ceu,
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimaraens __
Este poeta brasileiro nasceu
em Ouro Preto em 1870. Simbo-
lista, o nome de batismo Afon -
so Henriques da Costa Guima-
rães, ele o mudou artisticamen-
te para Alphonsus de Guimara-
ens que dava um cunho mais
místico às suas intensões estéti-
cas. O Simbolismo aproximou
a Linguagem da Alma. Reagiu,
desta forma, aos excessos do Re-
alismo que coisificava o Homem.
É uma aproximação até mesmo
curativa, diante das mazelas hu-
manas ( não irremediáveis ) que
"realisticamente" escritores re-
trataram diminuindo o Homem
que sem nem uma pitada de So-
nho. Fantasia e...de Alma... Lo-
go viria Freud e o poder curati-
vo da palavra, que reconhecia
haver os artistas falado do In-
consciente. Par com Cruz e
Souza__formam o ápice do Sim-
bolismo no Brasil. Alphonsus foi
magistrado em cidades do interi-
or mineiro e numa demonstra-
ção dos poderes da Alma não dei-
xou de elevar-se artística e espi-
ritualmente, apesar da pobreza
de seu meio ambiente. Mas, por
este ambiente meio isolado, sem
"grandeza", não foi reconhecido
em seu tempo. Falou do Amor e
da Morte. Sua "Pastoral aos Cren-
tes do Amor e da Morte" é de
1923. Também tem versos belís-
simos dedicados à Virgem Maria.
Devotou seu Amor simbolistica-
mente à noiva Constança, morta,
com muita infelicidade quando
mal entrava ( ela ) na adolescên-
cia.
"Last, mas nunca the Least"
Este Canto é dedicado à fi-
gura abençoada / abençoa-
dora de um Médico. O Dr.
Hélio Stamile. Na década de
70 o Dr. Hélio inovou a Psi-
quiatria com um tratamento
inovador.A cura pela palavra,
mas não falada, escrita. Ele
detectava um fato gerador de
problemas na vida de seus
pacientes e eles o escreviam
___repetindo___ em cader-
nos numa narrativa abreviada.
Depois de certo tempo toda a
virulência do fato era metabo-
lizada pelo organismo, sur-
gindo alívio e mesmo cura.Es-
ta técnica com acréscimos é
hoje empregada no tratamen-
to de Fobias ___ ao lado de
Análise e Psicoterapia. O ado-
ecer da Mente, em casos não
especificamente orgânicos é
um linguajar que procura a
cura, numa ampla sinalização.
A época contudo era infausta
e Hélio atuava em Hospitais Pú-
blicos, ( " Os "Militares", que
modernizaram o Brasil à força
dos canhões lhe disseram que
era um tratamento muito demo-
rado... afinal, o problema não
era com eles !!!... ). Numa per-
seguição"branca" acabou trans-
ferido para situações onde se
lhe dificultou a Pesquisa. Poe-
tas são Guardiões do Poder
Divino da palavra. E podem
simbolicamente ser a Voz de
um País.Assim, Dr. Hélio, re -
ceba com meu fio de brasileira
voz a gratidão dos brasileiros.
Com os filósofo modernos, não
podemos ser mais "inocentes";
podemos aquilatar com justiça
o que é verdadeiramente valor
humano, mesmo numa época
ingrata onde a nossa vida virou
algo desenraizado pra melhor
lucro. Como copinhos de vidas
descartáveis. Daí a necessida-
de de a palavra ser hiperpon-
tual. O nosso imortal apreço a
este digno seguidor de Hipócra-
tes.
Jorge Sunny
Ilustração
"Retrato de Alphonsus"
por sunny.