O CAMINHADOR

Nos pensamentos estamos sempre imersos como se estivéssemos dentro de um lago e boiássemos vez por outra. Enquanto boiamos vemos o universo e todas as coisas.

Passa um vento indiferente, que zune nas minhas orelhas ...zuuuummmmmmmmmmm

Minhas orelhas são um sonar do meu mundo pouco sensível.

Zuuuuuuuu...zuuum agora é um enxame de abelhas, passando por mim

Mudando de endereço!

Assim sinto o mundo. Ora é uma folha que cai e desenha parábolas até chegar ao chão.

Ora um pássaro que canta num galho uma canção fora de hora e feliz, ora é outra coisa qualquer, tudo serve para distrair minha alma sem cor!

Há tantos caminhos na minha frente!

Há tantos recomeços....!

E eu, sem nenhuma vontade de mover meus pés do chão!

Talvez eu devesse fazer uma viagem imaginária

Por uma estrada colorida, ladeada de árvores que se entrelaçassem

Assim dormiria às sombras desse arvoredo

Sonharia meus sonhos, quem sabe, os pássaros negros do desassossego não mais me atacassem!

A tarde, a paz dos prados viria cobrir o meu corpo como uma mãe afetuosa que nos põe o cobertor porque o tempo esfriou e reza por nossa proteção.

Em cada pedaço desta estrada haveriam portas que me abririam novos ângulos, novos sinais da vida. Que bom não seria!

Atualmente não vejo nenhuma porta, porque não tenho mais sonhos, só desejos.

Os desejos são uma luz que cega os homens e o faz moverem para frente

Eles são diferentes da esperança que é o coração das utopias, fabrica de sonhos.

Com ela nos escondemos da face feia do mundo,

São eles que nos fazem ter essa vontade de nos renovar, de prosseguir

Que venham em bando, oh sonhos!! Pousem todos em mim, mesmo que maltrapilhos!

A eles, mesmo aos inverossímeis, eu tiro meu chapéu e me inclino respeitosamente!

Por eles, meu ser sempre se lançou à frente à busca de algum sentido para a vida!

Há tantas coisas por descobrir, há tantos recomeços.....!

A vida é feita das percepções e casualidades que nos acometem diariamente.

Eu nunca sei o lado certo das coisas ou o seu avesso. Talvez eu esteja no avesso e por isso não distingo o lado bom das coisas.

Ser é diferente, é uma questão de vontade, não de destino.

O destino que eu escolhi é viver preso dentro da poesia, porque ela me alivia, como um fumo e me prende como se fosse uma casa longe do mundo. Mesma que não seja tão confortável, mas é uma casa que me protege da chuva e do vento.

Na verdade, nunca sei se ela me apazigua, ou se ela é uma vereda onde me dano!

Todavia a poesia é minha pátria. Uma nação cheia de fantasmas que são os meus sentimentos. Ela precisa deles! Eu estou com eles em todos os lugares e por onde vou levo-os comigo, como se fossem meus filhos, procurando uma terra para terem alguma identidade.

Minha imaginação é uma asa delta, depende do sol e do bom tempo. Por ela viajo. Eu somente vou aonde minha imaginação me leva.

Eu tenho de confessar-lhes que tenho em mim, um porão cheio destes fantasmas. Apenas uma vez eles fugiram e me deixaram livre,

Foi quando descobri o amor! Um só sentimento tomou o lugar de todos os outros. Nunca me senti tão liberto, mas foi um período apenas.

Depois a noite voltou com seus vales sem lua e todos os fantasmas voltaram para mim, muitos machucados, retornaram ao meu coração, sem coragem de se aventurar de novo, cheios de ressentimentos.

Então a poesia me consolou!

Eu busco algo novo, gostaria que houvesse um ópio que me libertasse, quando meu tempo se fechasse nas madrugadas sem cor. Um pó de esperança embriagador que renovaria minhas percepções e minha alma!

Como não o tenho, uso a palavra para navegar neste labirinto do sentir. Mas não é a mesma coisa, não há leveza no sentir!

Eu queria algo novo. Algo forte. Liberador! Sentir ao menos me faz imaginar. Imaginar me faz voar, voar me faz não ter dor! Assim engano a vida.

As palavras prendem minha imaginação numa linha fina que me lança ao vento. O vento brinca de trazê-la de lá para cá, como uma pipa nas mãos de um menino que não conhece nenhum limite e não sabe o que é sofrer.

Às vezes a linha arrebenta e a imaginação some no tempo. Penso que um dia a imaginação poderia salvar-me e me levar para longe de tudo. Mas de que adiantaria imaginar paraísos, cair em novas terras, se os problemas estão dentro de mim?

Um poeta me disse que a felicidade não mora na gente nem em lugar algum porque é uma ave sem pés que nunca pode pousar.

Que triste...! Pensei comigo!

Nestas horas, gosto de pensar que há caminhos na minha frente! Que há tantos recomeços....!

Enquanto divago, as horas caminharam alguns passos, rumo ao infinito!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 28/01/2012
Reeditado em 02/11/2016
Código do texto: T3466289
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