Cortesã de Tristezas
A noite debruçada em vitrais tétricos.
Horas profundas, lentas e caladas
Nas quais bebo uma saudade estranha e vaga.
Algo de imenso e infinito
Que, de tão deletério, me deslumbra e me confrange.
Não encontro par em nada neste mundo!
Alma de luto sempre incompreendida,
Mesmo em face dos de alma profunda e insatisfeita.
Imagino que sou alguém cá neste lugar tão amplo.
Ao voltar ás exéquias da realidade, não sou nada...
Íntima do desterro, e desta sorte,
Crucificada e dolorida,
Visto-me de altivez amarga
E fecho-me numa urna de ouro,
Tal qual uma cortesã de tristezas.
Ah! Tirar do interior o sentido! Águas profundas.
E, na volta, encontrar apenas pó e cinzas ao vento.
Os meus olhos lacrimejam pelo corpo, baço e frio.
Enfeitam linhas graves e severas,
Doentes a enlanguescer, e quedam, num abismo de esquecidos.
A negra cabeça que delira
Dolorida de quimeras e ideais consternados,
Numa lógica estática e sem rumo,
Embebeda-se e espraia-se
Numa dor de revolta, cheia de ira.
O sol já morreu...Imperativo de ouro...
O luar veste luto cálido...
As minhas ilusões todas, afáveis tesouros,
São levadas no mar revolto da vida,
Vão indo...indo...uma a uma...
Claustros, arcarias, negras sombras,
Enigmas sombrios dum requinte escultural.
Melancolia, saudade, que eu não sei donde me vem
(ou se as colho)
Talvez da vida. Talvez de ninguém!
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho cá dentro.