POR QUÊ?

Ele (juro que vi) agachou,

apanhou uma garrafa,

dessas que descem pelos enxurros de lama.

Não a lavou...

Não a enxugou...

Tirou do bolso esquerdo um papel de embrulho,

enfitou o horizonte...

depois rabiscou um sinal,

e beijou, beijou o troféu num gesto de último adeus.

Tudo parecia vão!

A tarde, banguela, morde-lhe a alma,

dilacera as entranhas.

Sua única mobília

(a garrafa)

foi-se, agora, na fúria das ondas.

Uma estrela, sábia estrela, desce e decifra o escrito:

o mar chora...

o mar se encanta...

mas fica nisso.

E ele, ele prossegue,

se arrasta entre lixos,

(isola-se)

isola-se nos silêncios dos aflitos.