CLAMOR DA GOTA

pingo de pingo em pingo
gingo e sôo no plaque e plaque
caio
sumo
seco
sumo
penetro em terra
sumo
evaporo
sumo
falto ao sol e falta à lua
finjo que volto e falho
e eis que volto abundante
e arrasto
tudo
invado
tudo
enlameio
tudo
viajo aos confins das geleiras
aos altos dos alpes e andes e himalaias e rochosas
aos abismos das crateras e lençóis e aqüíferos
aos recônditos das fossas abissais
nuvenho nos nevoeiros e nevo nas nevascas
derreto e degelo e icebergceio
sou menos que a gota em molécula de três átomos
apenas um agá e dois ó
na pureza da clara transparência
na leveza da pluma névoa
no sem gosto e sem cor
na doçura do amor
no regato e riacho e rio
e no mar vermelho
ou oceano azul do mapa mundi

clamo por justiça
reclamo por mal versão
resisto e renovo meu existir
por séculos e milênios e luas e martes e júpiteres
por caudas de cometas
até as trombetas do juízo final
quando sem mim
chegou o fim
e nunca mais eu
assim
pingo em gota

Obs.: Poema que conquistou o 2° lugar no Concurso de Poesia da Ass. de Cultura Luso-Brasileira de Juiz de Fora - MG em 2004 com o tema "Água".