Sonhos à Venda

Comprei, na feira de livros da cidade,

cinco ou seis volumes de poesia

por pouco mais que o preço de um jornal.

Quanta tristeza, amor e até saudade,

que para alguém foram tudo em algum dia

acabaram, assim, de um modo tão banal.

Quanta ilusão contida em cada livro,

tanta esperança de vê-lo transformado

em motivo de orgulho e até de fama,

ficaram todas perdidas num furtivo

e doloroso fantasma amarelado

num sebo, como assim o povo chama.

Onde andarão agora esses poetas,

quantos estarão vivos, ou no espaço

procuram rimas em outra dimensão?

Quantos ainda terão a alma repleta

dos mesmos sonhos fadados ao fracasso

de que seu livro foi uma coleção?

De qualquer forma, os livros enjeitados

encontraram em minha estante um abrigo

que os privou de um fim mais humilhante.

Eles serão agora bem cuidados

e vão ficar por todo o tempo ali comigo.

transformados pelo amor, de hoje em diante,

numa homenagem feita a quem, como eu,

com a mesma força de quem os escreveu

também sonhou bastante.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 01/04/2012
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