De Repente...

De repente me veio uma estranha saudade

de tudo que sonhei, de tudo que vivi,

do que talvez pudesse ser até felicidade

e que passou perto de mim, mas eu não vi.

De repente eu fiquei só com meus medos,

com as palavras de amor que nunca disse,

com as paixões que guardei como segredos

não deixando que ninguém mais as sentisse.

De repente eu me vi com apenas vinte anos

e todas as certezas próprias dessa idade,

cheio de tantas ilusões, miragens, planos

e até pensando ser eterna a mocidade.

Fluindo o pensamento, eis-me aos quarenta,

tendo algumas cicatrizes, mas ainda inteiro,

já sabendo que na vida tudo que se tenta

nem sempre tem o preço justo ou verdadeiro.

Aos sessenta já se dobram o corpo e a mente:

tanta coisa se quis, tanto sonho impossível

perseguimos, sem saber que mais à frente,

estava à espreita o destino inflexível.

Aos oitenta, já se sente que esta história

perde os detalhes, erra tempo e espaço

porque as lacunas no arquivo da memória

se abrem ao peso da vida e do cansaço.

Assim, de repente, lembrei o meu passado

que o hoje aos poucos vai tornando escuro

e percebi, envelhecido, só e amargurado

que lembrar o que passou é o meu futuro.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 10/04/2012
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