Ainda que...

Depois que o silêncio

Restou para acalantar as inquietudes

Daquela mão já cansada

Firme, calejada, enrugada;

A senhora se pôs a recitar

Não era poesia o que sem sentir

Proferia para aquelas pernas calmas

E nem talvez fosse alguma oração

De quem já não esperava sequer movimentação

Era a única docilidade do tempo

Que se esquecera de dizê-la que os cabelos

Nasciam brancos depois que já não mais sangrava

E que por cada segundo que passava

O sorriso torpe ao seu lado já não se apresentava

Se esperava?

O seu ritmo mais certo era aguardar calada

Sabendo que as levezas das mudanças

Dos dias de sol que nasciam sem sonhar com ela

Eram talvez as mais certas harmonias daquela vida amarela

A única coisa que poderia saber

É que com o tempo: o amigo, amante, inimigo, caído;

Homem de sentidos, que habitava sua cama toda noite;

Estaria mesmo sentido-a, querendo-a, desejando-a;

Ainda que o tempo insistisse

E não ouvisse que ela ainda estava linda.

Lady Sophia
Enviado por Lady Sophia em 01/02/2007
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