Coração semeador
Cansa-me falar a quem não ouve por opção
E de ouvir a quem fala por arremedo.
Mas é preciso deixar gritar o coração
Para o cansaço não torná-lo em rochedo.
O coração endurecido até vence batalhas
Porém, inexoravelmente se deteriora.
Deteriorado, não pode juntar as migalhas
Por não conseguir mandar a dor embora.
Não deve o coração em contrapartida
Amolecer-se e fechar os olhos à realidade
Sob o risco de ter – inútil – vivido a vida
Sem nunca mesmo saber o que foi felicidade.
Não deve, da razão, ser escravo ou inimigo.
Se inimigo, deixa-o vencer o ódio e a vingança;
Se escravo, entrega-se submisso ao perigo
Dos que subvivem sem ter sequer esperança.
Mesmo que seja a emoção linda e pura
Não deve iluminar-se por sua cegueira,
O coração ferido pela mágoa que o procura
Para fazê-lo perder-se em sua sujeira.
Por isso é preciso seguir como o semeador
E lançar a todos os cantos sempre uma palavra
O que delas vai brotar dependerá do amor
Com que o canteiro fizer e receber a lavra.
Cícero – 15-06-12