Coração semeador

Cansa-me falar a quem não ouve por opção

E de ouvir a quem fala por arremedo.

Mas é preciso deixar gritar o coração

Para o cansaço não torná-lo em rochedo.

O coração endurecido até vence batalhas

Porém, inexoravelmente se deteriora.

Deteriorado, não pode juntar as migalhas

Por não conseguir mandar a dor embora.

Não deve o coração em contrapartida

Amolecer-se e fechar os olhos à realidade

Sob o risco de ter – inútil – vivido a vida

Sem nunca mesmo saber o que foi felicidade.

Não deve, da razão, ser escravo ou inimigo.

Se inimigo, deixa-o vencer o ódio e a vingança;

Se escravo, entrega-se submisso ao perigo

Dos que subvivem sem ter sequer esperança.

Mesmo que seja a emoção linda e pura

Não deve iluminar-se por sua cegueira,

O coração ferido pela mágoa que o procura

Para fazê-lo perder-se em sua sujeira.

Por isso é preciso seguir como o semeador

E lançar a todos os cantos sempre uma palavra

O que delas vai brotar dependerá do amor

Com que o canteiro fizer e receber a lavra.

Cícero – 15-06-12

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 16/06/2012
Reeditado em 29/07/2012
Código do texto: T3726674
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