PAVOR ELOQUENTE(A DOENÇA COMPROMETENDO A RAZÃO)

Eu quero mais que vocês se danem:

viciados, moribundos,

mendigos imundos,

bandidos, vagabundos.

Vocês são a nata da degenerescência,

onde o crime o vício são sinais de nascença,

de suas hereditariedades podres e servis.

Seus pálidos sorrisos me enojam,

suas vidas devassas, devassadas,

me fazem invariavelmente vomitar.

Proclamo a todos os cantos,

o necessário isolamento de vocês.

Por que?

Porque . . .

Bem . . . porque

Na verdade eu tenho medo,

Sim, tenho muito medo.

De que a nossa ostentação, desperdício,

possam ser mal interpretadas,

nossa incontrolável ganância,contestada.

Que a nossa ambição, delírio,

possa sofrer o crivo de quem está aflito.

Além disso, há o perigo

de um dia eles acordarem,

desse sonambulismo crônico,

transformando-se em animais predadores,

de nós privilegiados comensais.

Também tenho medo,

muito medo,

de sermos cobrados, responsabilizados,

por seus tenebrosos destinos,

por suas horas de aflições,

por suas arbitrárias prisões,

pelas cadeias cheias sem condições,

pela falta de honestas escolas públicas,

por atendimento médico incompetente,

por um sistema de saúde ineficiente,

pela falta de uma aposentadoria descente,

pela falta de moradia,

de espaço,

de trabalho,

de comida,

de oportunidades,

de lazer,

pela falta de dinheiro,

pelo excesso de crak, cachaça,cola de sapateiro.

Mas será?

Será mesmo?

Que eles terão a capacidade de avaliação,

de que nós ficamos quietos,

quando o dinheiro é desviado,

para salvar banqueiro ladrão?

Será?

Que eles entendem,

quando as cloacas das universidades,

em suas diarréias crônicas,

defecam os incompetentes

e nós ficamos quietos,

porque podem ser a dos filhos da gente?

Será?

Que percebem,

que a polícia dificilmente nos prende?

Será?

Que sentem,

quando passamos de carro e lhes doem os calos?

Será?

Que enraivecem,

quando lá do alto nas frestas de suas janelas,

observam concisos nossas faustas célebres festas?

Por isso urgentemente,

nós necessitamos,

na ponta dos cascos,

para manter o que acreditamos,

de políticos sociopatas,

apátridas, safados, piratas.

De empresários salafrários,

de insensíveis ditadores,

de militares seguidores,

de adestrados matadores,

mas principalmente,

de um povo ignorante,alienado, idiota,

para sustentar esses patológicos senhores.

Alexandre Halfeld
Enviado por Alexandre Halfeld em 11/02/2007
Reeditado em 11/02/2007
Código do texto: T377081
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