IV-CANÇÃO DA NOIVA DO SOLDADO




Eles marcharão até sua casa.
Seguindo os rastros de sua partida.
Uma bandeira dobrada, envergonhada,
que dirá do seu prometido:
"Tome o constrangimento de meu país,
em troca de uma vida que não vale nada".

Onde se assenta quem escreve a história,
repousa o peso de um triunfo amargo....
E os velhos olhos, cansados de tudo,
apenas acompanham as mãos enrugadas,
apenas seguem o que dita a memória.
Memória que ficou perdida em algum canto,
dessas casas todas iguais.....
Há algum bem em se lembrar sempre,
caso vivo, do retorno após a batalha?
Não haveria sono, não haveria descanso,
apenas o ofegante sobressalto na madrugada.

E sempre elas que esperam,
habitam os quartos povoados de fantasmas,
de insetos e de vozes distorcidas de um violoncelo.
Para além da janela, nada se avista.
Ninguém, jamais, retornará...
E a ausência pesa como as cruzes penduradas no peito,
onde se ameaça a Deus com o ultimato de uma oração..
Mas nem ele ouve o que só o coração inflamado grita...
É que onde estava aquele que deveria estar perto,
ficou apenas o relógio preguiçoso, e a bandeira.
Ele se foi, junto com sua sombra,
e ela ficou, junto com seus escombros.
EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 13/07/2012
Reeditado em 15/07/2012
Código do texto: T3775698
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