VII-CANÇÃO DA TRÉGUA





O palco é um aviso para a vida.
Deixada lá fora, enquanto na penumbra,
sonha a vulgaridade que quer ser definitiva.
Soldado: a voz que fala do Alabama,
é ilusão de vagalumes e traçantes,
não vestidos de paetês e cetim.
As curvas que se movimentam no espaço,
não são aquelas que desejaria.
E fossem reais, como real é o sangramento,
certamente tú a deixaria.
Mas soldado, você insiste em sonhar...
e sonhando, torna essa partitura obssessiva.

Relembre quando via aqueles cabelos frisados,
e os olhos entre cansados e distantes,
sob a luz de um cabaré antigo, inconstantes...
você já entendia o que era a guerra,
entendia o que é não pertencer mais à vida.
Por isso é que hoje vê na fumaça uma promessa,
e nas luzes da ribalta um alívio imediato.
E nessa voz rouca que canta a narcose
consegue ignorar suas horas perdidas.

E sonhando, enquanto divide o pouco espaço no peito
com as armas e o insuportável cheior da morte certa,
é que por pouco tempo encontra um motivo para a escrita:
uma carta, endereçada a uma antiga estação de trem,
onde estará seu irmão, falsificando chegadas e partidas,
até que não haja mais trens, nem sonhos, nem certezas.
Enquanto sonha, ouve a música embalada em vestido azul,
onde silenciaram os conhões, as dores, as dúvidas,
porque o palco, é a única trégua que a guerra permite.
E mesmo que não haja mais personagens, nem futuro,
sabe que onde estiverem os soldados domados,
e uma voz para fazer esquecer todas os traumas,
ali será o templo de um Deus desconhecido,
traduzindo seus sinais, pela boca de um artista,
que mais vezes já esteve em todas as guerras.

A oração que segue todas as batalhas, soldado,
é a mesma que persegue a possibilidade de vida.
Querem todos sair logo daqui...mas para onde?
Algo há de ser feito, antes que nada mais possa ser visto.


EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 14/07/2012
Reeditado em 15/07/2012
Código do texto: T3777360
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