Uma grande árvore de fruta

Tenho vinte e três anos

Meia vida – que horror! dizem as tias...

Tenho vinte e três anos

E não me dizem eu, dizem-me menino.

Se é dor que sinto, então nada sinto

Pois que dor não tenho, se não de fruto verde

Se me queixo, é de nada a queixa

Se não a queixa dum fruto...dum fruto verde

Se grito ao mundo: – Amo!

Amo coisa nenhuma, que isso me é inda broto.

Ora, se tenho vinte e três anos é que...

É que no trabalho é força moça, braço forte de labuta

É que de mocidade precisa a pátria

É que tenho ainda tempo de pagar contas

É que tenho de fazer dívidas

É que tenho que estar calado, para que me tenham orgulho!

E tudo isso é um dever que ninguém deve

E eu, que tenho vinte e três anos, vejo banhar-se

Num balde de burrice e sujeira, toda a maturidade conselheira

Que fecha os olhos e nos empurra

Sabe-se lá para que lugar, que caminho

Pois é só o que têm de fazer:

Meu corpo tem mesmo é de surrar-se...

Não. Ah, não! Tenho vinte e três anos!

E se nada me pode ser maduro, se não o servir

Que me derrubem desse pé com violência!

Que eu caia rebentando a casca e me voem longe os miolos!

Ah, mas se ainda disser tu, meu amigo...se tu ainda disser:

“Cala-te, és ainda um menino, ouça cá um seu querido...e maduro...!”

Ah! Se tu isto ainda disser...ah! meu amigo, se ainda disser

Então suba de volta para dizer-me, que de tão maduro já és podre!

Já beija o chão há tempos, com a cara desfigurada

E tudo o que me chama mocidade, é dor do que lhe não volta...

É o galho que tu, aí de baixo, mal vê longe...o galho que te cuspiu fora!

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 28/10/2012
Código do texto: T3956635
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