Incoerência

INCOERÊNCIA

Encontrei durante a vida,

Mil coisas pra contestar:

Porque é que todos rios,

Deságuam dentro do mar?

Acaso o mar está seco

Ou é salgado demais?

Quem sabe o rio é tão doce,

Que cristaliza no cais?

O sol vem e aquece as águas,

Dos rios também dos mares,

Então as nuvens formadas,

Hão de ter dois paladares.

Mas se no céu se misturam

E voltam a cair na terra,

Com certeza o melhor, gosto,

É aquele que a chuva encerra.

Quem sabe, que até por isso,

A água não tem sabor,

E também por causa disso,

Ficou assim sem ter cor.

Embora não tenha forma,

Imita a quem a contém,

Se correr pro mar é norma,

Não sei se vai ou se vem.

Se o rio corre pro mar,

E nunca o mar para o rio,

O mar há de transbordar

E o rio ficar vazio.

Como tudo nesse mundo,

Só tende a se transformar,

O mar há de ficar fundo,

Mas nunca a água acabar.

Se o homem é avarento,

E vive a desperdiçar,

Com certeza há o momento,

Que Deus vai lhe castigar.

Mas a água está aí,

Está em qualquer lugar,

O mais difícil vai ser,

A forma de se pegar.

Mas o homem é bem sabido,

Não vai se preocupar,

Por tanto que já tem lido,

Há de sempre a encontrar.

Tira-la do subsolo,

Ou do ar abstraí-la,

Não é um grande problema,

O problema é poluí-la.

Derreter gelo do pólo,

Ou a chuva represar,

São jeitos que o homem tem,

Pra ter água pra gastar.

Porém essa incoerência,

De não querer conservar,

Vai ferir-lhe a consciência

E talvez o liquidar.

Pois na hora da escassez,

Quando a sede lhe apertar,

De Deus será o freguês,

Pedindo pra lhe salvar.

Escutará do Divino,

Que o homem é feito de água,

Que é dono do seu destino,

O responsável da mágoa.

A mágoa que lhe devora,

Enquanto por água implora,

Diante de um dilema,

Que hoje me é um tema.

Assim há de perceber,

Que restará nessa terra,

Pra que então possa beber,

A água que ele encerra.

Virão assim em seus olhos,

Duas lágrimas doídas,

Que escorrerão pela face,

Caindo, ao solo, perdidas.