NO MESMO TRILHO

a voz do silêncio grita

aflita

o homem come ainda carne

frita

a vida é um bonde

onde anda uma avenida

tão comprida

que tudo descompassa

e até a vida passa

e se agita.

passa a vida por trás

do muro escuro

onde o homem grafita

e a mulher grávida

gravita

por onde não trafega

e nem traga

entrega a vida e resvala

para a vala comum

dos desvalidos.

passam os tempos idos

como o feto feito

nos tempos desabridos

e nasce a criança

ré torta

retortas e barafundas

das bundas à frente

nas filas do pão

que o vale compra

ainda quente.

consertar o mundo

ainda pede

que faça justiça

quem pode

se há cortiço que funde

confunde quem cheira

e quem fede

não é sorte, é desdita

quem ávido a carne come

e só a podre regurgita.

e nem é questão de fé

e de reza

porque aqui se sabe e se crê

Deus não fala - responde

se houver consciência em você

e é desse silêncio que falo

o que separa o joio do trigo

enquanto alguém pensa em você,

- no mesmo bonde -

você quer no mesmo trilho.

no início Roma era grande

não havia outro princípio

o bárbaro entrou no outono

de túnica, cetro e poder

e sentou-se no mesmo trono

o bonde que já ia à mais valia

com a pepita de mão-em-mão

repete o outro não-ter

se é em detrimento do ser

que há outro dono...

no mesmo trilho.